24/07/2015
A mamã odeia o
McDonald’s, mas o que é verdade é que acaba sempre por lá ir. Talvez tenha
perdido a capacidade de me reinventar, pois deixo sempre que o mesmo me
surpreenda:
A quantidade de
crianças trazidas pelos pais e pelos avós, a engolir estas batatas rançosas e
estes hambúrgueres cujo pão está ensopado em açúcar. E o meu resmungo,
entredentes, devia ser
proibido deixar entrar crianças aqui… Se fossem meus filhos! E as mães para o filho, lambuzado de ketchup, se não acabares o hambúrguer não há
gelado! E eu, ácida, melhor para ele.
Levo à boca mais
uma colher do gelado que derrete, enquanto recordo também o Pingo Doce, as
filas intermináveis do Pingo Doce. À minha frente, um rapaz de oito ou nove
anos sorve o conteúdo de uma lata enorme de “Monster” nas costas da mãe. Depois
pula, trepa o separador metálico das duas filas e a mãe sibila, num português
incorrecto um desce daí pá,
estás incomodar pessoas, só para fingir que tem mão nele. E o miúdo crava
em mim os olhões dilatados de um verde surreal, por entre as sardas e sob a
pala do boné. De rosto corado, dedica-me um sorriso certeiro, como se me
ouvisse os pensamentos: esta
mãe deixa-o beber um energético enquanto reclama da sua inabilidade para ficar
quieto.
E, na caixa ao
lado, duas velhas a passar à frente de todos, de batom e permanente de sábado
passado: obrigadinha, é só
mesmo o pão. E eu, mal-humorada, com
tanta padaria…
E a senhora da
caixa para a velha: Não se vá
embora, então não tenho que lhe dar cinco euros de troco? E a velha dá um golpe seco na
própria testa (a franja não mexe) e tartamudeia um ah pois é! E eu a pensar estas velhas, são um perigo para
elas próprias. E a velha pega
nos cinco euros e já vai junto ao segurança quando a mulher da caixa,
exasperada, exausta, porque é isto todos os dias: Olhe! Não fuja, então não deixou
aqui esta nota de dez euros? E
a velha olha para trás: Eu? E bate na testa (a franja não
mexe) – Ah! (revira o porta-moedas) É minha, é!
E eu a pensar estas velhas, são um perigo para
elas próprias.
A mamã escreve
isto enquanto come um gelado no McDonald’s, sabendo que envelhece a cada
instante.
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