Como
vou encontrar o caminho de volta a mim mesma? Não sei quando saí, nem há quanto
tempo tenho estado fora. Não sei ao certo onde estou nem que estrada me trouxe
aqui. Não tenho qualquer ideia do que fazer para recuperar o trilho que tinha,
tão firme, sob os meus pés.
Meus
queridos, a mãe supõe que seja habitual sentirmo-nos perdidos. Contudo, foram
raras as vezes que não soube quem era nem o que estava a fazer. Uma conjugação
de factores soprou-me para a berma do carreiro e agora, por entre os musgos e
as silvas, sinto que rastejo.
Só
sei que sou uma casa vazia, e os pensamentos ecoam nas minhas paredes e
reviram-se nos meus tectos. Como um ciclo que me adoça os lábios e me tinge as
noites. Por muito vazio que o espaço esteja, há uma espécie de humidade que se
prende às paredes; medo. A mãe tem medo. Primeiro tinha medo de perder o elo de
fragilidade por quem era responsável. Depois esse pesadelo tornou-se real e o
gato desapareceu, levando grande parte do misticismo e do conforto do meu
quotidiano. Em seguida tinha medo da distância. E a distância interpôs-se.
Quando comecei a viver, a distância duplicou, até atingir a dimensão de
oceanos. Duas pessoas como dois lagos de água tépida, de pés no cimo de duas
montanhas.
A
mãe passa os dias de olhos postos no horizonte. Os mesmos ardem e o futuro não
se deixa vislumbrar. A mãe encolhe-se um pouco mais no escuro. Foi desprovida
de quase tudo. Tudo aquilo que parece oferenda, milagre, tem para a vida o mero
propósito de poder voltar a despojar-me de algo que me aqueça.
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