No
meu primeiro dia de trabalho em Hamburgo,
Descobri que coragem é mesmo coragem.
Não é só assumir o pódio de uma atitude ousada. É mantê-la e velar pelas nossas
escolhas.
Tendo acordado às 06:00, descobri que as
coisas realmente demoram mais quando nos sentamos por dois minutos a tomar o
pequeno-almoço, lavamos a loiça, limpamos as migalhas da mesa, apagamos as
luzes de presença que acendemos à noite, escolhemos a roupa à pressa, pintamos
o rosto e o desodorizante mancha a camisola. Em seguida os sapatos escolhidos não
condizem com a chuvada lá fora. Entretanto o pijama ficou dobrado debaixo da almofada da
cama feita. Só me atrasei em dez minutos, por isso experienciei o rush das sete e dez dos subúrbios para
Hamburgo. Com entra-e-sai do metro (que está em obras e por isso demora uma
hora a chegar ao centro com um troço do caminho sendo feito por um autocarro),
todos apanhámos chuva. Todos cheirávamos, debaixo do Hugo Boss e do Amor Amor,
a cachorro molhado, como dizem os brasileiros. Para não falar na minha
rua que cheira a estrume. Verdadeiramente, por entre os arbustos de lilases
e hortências, com a chuva todos os jardins cheiram a estrume.
Nas finanças fui atendida em dois minutos e
descobri que não era ali que devia estar. No Consulado português sentei-me por
uma hora a ver a RTP1 e a ouvir os transmontanos a falar no ouro que o Salazar
amealhou e no subsídio que recebem da tropa – 18,00€/mês equivalentes a uma
carga de trabalhos e toneladas de papelada. Não fui atendida porque, nessa hora em
que lá estive, esteve sempre a mesma pessoa sentada perante a única pessoa que
estava a atender. Senti-me em Portugal.
Refugiei-me no
Starbucks e dei por mim a
perguntar-me se essa cadeia têm alguma coisa que a valha além dos copos
bonitos que ficam bem nas fotos do instagram.
Pior expresso que jamais bebi. E por
1,90€.
Depois Neuer Wall – onde trabalho, é o
paraíso das primas donnas. Cartier,
Bvlgari, Louis Vuitton, Gucci, Tiffany & Co, etc. E o pesadelo de quem
trabalha com mercado brasileiro e sai às tantas do escritório por causa do
fuso-horário. Na Praça do Parlamento já está tudo fechado quando saio, e nem
saio assim tão tarde. Nem é possível
comprar-se pão, já.
Acabo o dia a encaminhar-me, noutro metro a
cheirar a cachorro molhado, para uma casa vazia e em silêncio onde não posso
esquecer-me de acender as luzes do exterior – por causa dos passantes ou de
possíveis assaltos? – e de fechar as cinquenta mil portas. Espera-me aquilo que tentei que fosse uma canja mas que, na realidade, é só sopa de arroz
e cenoura.
Amanhã, desconfio, será igual.
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